quarta-feira, 10 de junho de 2009

PSICANÁLISE




QUEM E O QUE É O HOMEM?
( Marcos Oliveira - Psicanalista)

Para a Psicanálise, qualquer tentativa de explicar e entender o homem, em seus múltiplos desdobramentos existenciais, é o mesmo que entender e adentrar o questionamento ontológico de todas as outras coisas existentes, pois é a partir do homem e de sua organização mental que nos deparamos com o elemento organizador daquilo que comumente chamamos de mundo real. Em nossa visão personalista, todo e qualquer sentido para existência, só pode emergir da excepcionalidade da vivência subjetiva do homem, ou dito de outra maneira, é nessa singularidade da pessoa humana que sempre encontraremos um sentido para tudo que existe. Dentro da sua estruturação psíquica o homem expandiu-se para todos os lados; o que inicialmente era só imanência, tornou-se transcendência; a base humana foi além da manifestação fenomenológica passiva, o homem superou todas as coisas e no seio desta superação deixou de ser coisa para assumir a dimensão maior e singular de pessoa. É lógico que sabemos que o homem foi e certamente continuará sendo explicado de diversas formas e a partir de diversas perspectivas, mesmo a psicanálise como a ciência do profundo, não tem como pretensão possuir uma hermenêutica capaz de compreender o ser em sua essência. Ninguém mais do que o psicanalista, sabe que explicar não é um sinônimo de compreenssão plena, muitas vezes aquilo que se explica em suas últimas e mais profundas possibilidades continua zelando pelo seu aspecto oculto. O homem é filho do mistério, pois ao ser introduzido no mundo como indivíduo já traz intrinsecamente a dúvida e a incerteza como marca maior de sua evolução, porém, como gênero o homem deixa de ser filho para assumir o papel de pai de todos os mistérios, isso é asim porque, afinal, só é possível e pertinente ao animal humano o questionamento existencial. A pessoa humana é gerada a partir de duas partes aparentemente excludentes: a soma de todas as verdades e certezas de seus inumeráveis antepassados, bem como, se construiu também, pelos erros e incertezas de todos aqueles que pisaram antes o nosso milenar planeta. Por esse motivo, sua natureza essencial fundamenta-se em uma dualidade permanente, ele é construído como humano pela dança dos opostos, ontologicamente a concomitância das oposições e a soma geral de suas muitas manifestações, criam condições para sua mundanidade*. Portanto, ao nos referirmos ao homem, falamos sempre de uma totalidade autotranscendente capaz de um senso agudo de anterioridade pessoal; ao mesmo tempo sua identidade não se sustenta só em uma visão regressiva de si mesmo, pois, prospectivamente o homem conseguiu se projetar nas paisagens daquilo que ainda não é, porém antecipa-se gnosiológicamente, frente a suas múltiplas possibilidades sempre latentes.Pode-se afirmar, sem dúvida nenhuma, que a gangorra de pensamentos regressivos e progressivos é movimentada pela liberdade que o ser tem de pensar a sua própria vida, e é exatamente pela via dessa reflexividade que o homem passa a ser o criador de seu próprio destino, sua natureza aberta ao devir lhe confere a capacidade de fazer ou não determinada coisa, de cumprir ou não determinada ação, embora independente de suas escolhas, em sua natureza interna já subsistem todas as condições requeridas para diversas formas de ação. * Esse termo, foi montado a partir do conceito Heideggeriano de “ser-no-mundo” se refere essencialmente à capacidade da consciência de se relacionar com o mundo.
Continua

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